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Autores do IFMG: conheça algumas das obras literárias escritas por alunos e servidores

Com mais de 20 livros publicados, o professor do Campus Santa Luzia, Danilo Briskievicz, conta, em entrevista, um pouco sobre suas obras, o processo de criação e a relação disso com a atividade docente.
publicado: 26/11/2024 09h46, última modificação: 26/11/2024 09h46

campi-autores-ifmg.pngEu não quero disfarçar
meus sentimentos, jeito,
cor ou forma de pensar

Eu quero um lugar onde a
igualdade seja a única forma
de se comunicar e a aceitação
a palavra mais linda de se escutar

Quero poder dizer que não há perigo
na esquina e nem empecilho para
sermos o que somos e que as
diferenças sejam apenas uma palavra

Que nem a pele, sentimento,
forma de pensar carregue
prantos ou dor e que a consciência
seja mais uma forma de amor.

Escrito pela aluna Camila Aparecida Dutra, o poema “Disfarçar” é parte de uma coletânea lançada pela Editora IFMG em 2023, intitulada “Escritas Escolares” e organizada pelos servidores Agnaldo Afonso de Sousa e Cristiane Soares Mendes de Jesus. A obra reúne os melhores poemas premiados/classificados em três edições (2014, 2018 e 2022) do Concurso de Literatura (poesia) do Campus Ribeirão das Neves. São em oportunidades como essa que os estudantes (e também os servidores) podem mostrar o talento para a escrita literária. Dentro ou fora da sala de aula, diversos alunos têm se aventurado pelo universo da literatura.

É o caso da estudante Daniela Tamara Silva Moreira, que cursa o Técnico Integrado em Eletrotécnica, no Campus Conselheiro Lafaiete, que já lançou três livros. Sua última obra, intitulada "As 7 chaves da felicidade", foi publicada neste ano pela Editora Garcia. Já as ex-alunas Rafaela Ribeiro e Alicia Silva, que se formaram em Pedagogia, publicaram “As aventuras em Ouro Branco, Minas Gerais”, livro originado do trabalho delas de conclusão de curso. A obra traz a aventura de duas crianças que, durante as férias na casa dos avós, percorreram os patrimônios do município onde o IFMG tem campus.

“Afagos do Tempo” é outra coletânea de poesias publicada pela Editora IFMG, mas essa de autoria do professor Jamil Domingos da Silva, que atua no Campus Bambuí. Já a docente do Campus Ouro Preto, Luciana Ferreira, é autora de “Quarenta”, livro que reúne crônicas escritas por ela durante a pandemia. Fabiano da Silva Nogueira, técnico-administrativo do Campus Congonhas, é outro servidor que já estreou no mundo literário com uma narrativa policial ficcional intitulada “Assassinato no Cruzeiro”. Recentemente, a professora de Português e Literatura, Laís Maria de Oliveira, publicou “Rascunhos de delírios e, portanto, das coisas mais sérias”, resultado de um concurso da editora Crivo Editorial.

Professor Danilo Briskievicz-IFMG.jpgAutor de diversos livros de ficção, não ficção e pesquisa histórica, o professor de filosofia Danilo Arnaldo Briskievicz, do Campus Santa Luzia, tem mais de 20 livros lançados. Na entrevista a seguir, ele conta um pouco sobre o seu processo de criação.

Quantos livros já publicou? Qual foi o primeiro e em que ano?

São mais de vinte livros publicados em formato impresso e e-book. O primeiro livro de história foi publicado em 2002 intitulado “A arte da tipografia e seus periódicos”. Com prefácio do jornalista e prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, a pesquisa comprovou um ranking das cidades mineiras envolvidas com a publicação de jornais. O primeiro livro de poemas foi publicado em 1994, um livro artesanal produzido pela tipografia do meu pai na minha cidade natal, Serro (MG). O romance de estreia intitulado “Triângulo” saiu em 2023 pela Caravana Grupo Editorial e é o primeiro de uma trilogia, seguindo com “Quadrado” e “Círculo”, ainda no prelo. Em relação à filosofia política, o primeiro livro foi resultado da minha dissertação de mestrado no curso de pós-graduação em Filosofia da UFMG intitulado “Violência e poder em Hannah Arendt”. Tenho muito orgulho de ter publicado na área da filosofia da educação minha tese de doutoramento na PUC Minas intitulada “Hannah Arendt: educação e política”, na qual apresento soluções conceituais para integrar a ontologia da singularidade e a ontologia da pluralidade. Dito de outra forma, propus conectar a escola com o mundo no qual vivemos.

Qual é sua mais recente publicação? Quando foi lançada?

“O ouro do Brasil”, história das minas do Serro do Frio de 1702 a 1714 é o mais recente livro publicado pela Editora Appris.

Como é seu processo de escrita? De onde vêm as motivações e inspirações?

Sou apaixonado por trajetórias de vida. Isso tem me ajudado a contar boas histórias. Gosto muito de pesquisar e escrever sobre o Brasil profundo, em especial a cidade do Serro e sua região da antiga Comarca do Serro do Frio. Quando uma personagem é encontrada em seu contexto social, político e cultural eu posso explorar mais e mais os detalhes, recolhendo documentos, fotografias e informações coletadas em entrevistas e trabalho de campo. Já contei histórias de Teófilo Ottoni e seus irmãos em alguns livros. É um político liberal do século XIX. “Chiquinha Leite: professora e negociante” me permitiu escrever sobre uma vasta região de tropeirismo e escolas mistas municipais. A história da “quase invisível” professora nascida em 1840 e falecida em 1913 me permitiu descobrir uma rede comercial liderada por ela, conectada com Diamantina, Serro, Santo Antônio do Itambé e Serra Azul de Minas. Ela comercializava com casas do Rio de Janeiro que importavam cigarros de tabaco da Alemanha. Uma mulher solteira, rica, independente, amante de jóias e dona de imensa fazenda. Este livro foi resultado do meu primeiro pós-doutorado realizado com a supervisão do professor Jamil Cury, da PUC Minas.

Escrever é o final de um longo processo de recolhimento de documentos físicos ou digitais (às vezes eu mesmo fotografo-os em arquivos públicos). Por vezes, a pesquisa me leva para arquivos em Portugal (Torre do Tombo, Universidade de Coimbra, Arquivo Histórico Ultramarino), Belo Horizonte (Arquivo Público Mineiro, IPHAN), Serro (IPHAN e arquivos pessoais), Diamantina (arquivo eclesiástico), e Washington (arquivo de Arendt do Congresso Nacional). Seleciono as fontes, leio centenas de livros e artigos, pesquiso por dias em arquivos, mapeio o tema ao extremo. Prefiro, quase sempre, ordenar cronologicamente a narrativa. Acredito que fique mais fácil para o leitor.

A inspiração para a poesia vem do meu encantamento pelo dizer das coisas com palavras e sentimentos outros que o óbvio. Dizer poeticamente é cuidar de si pela palavra. Os romances são inspirados nas vivências cotidianas em torno do longo passado brasileiro que bate à porta todos os dias. “Triângulo”, por exemplo, é um romance LGBT+, ambientado no Serro do século passado. Um triângulo amoroso revelando como o passado cobra seu preço: o padroado e o machismo são o pano de fundo para discutir o direito à felicidade de pessoas fora da regra vigente.

Como define os temas que abordará em seus livros?

Quando escrevo história do Serro, do Brasil colonial, o tema da fundação política é meu norte. Fundação da instrução pública, os primeiros professores, as primeiras experiências de letramento e as pessoas que vivenciaram estas realidades históricas. Os primeiros anos de funcionamento das minas de ouro serranas, quantos escravizados trabalhavam nas minas, como eram as sociabilidades entre pobres e ricos, entre bandeirantes e mineradores, entre homens e mulheres. Isso me interessa bastante. As primeiras ocorrências. Os primeiros gestos de poder e de constituição das autoridades e autorizações. Fundação política e trajetórias de vidas. Isso me interessa abordar sempre.

A experiência e vivências em sala de aula ajudam no processo de escrita?

Sim. Quando pessoas negras e indígenas se apresentam em sala de aula como discentes há uma sensibilidade enorme em relação ao passado que as liga a mim, à escola, à sociedade atual. De outra forma, o meu segundo pós-doutoramento em História pela UFMG me levou para Portugal para pesquisas em arquivos públicos. Esses estudos serão publicados em vários livros previstos para os próximos anos. Mas o importante é que essas vivências acadêmicas me permitiram montar uma disciplina optativa no curso de Arquitetura e Urbanismo do meu campus, intitulada “Formação da malha urbana colonial mineira”. Estudos acadêmicos sempre voltam para nossos alunos.

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