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Projeto Interdisciplinar do IFMG Ibirité Explora a Formação do Povo Brasileiro a partir de Darcy Ribeiro
Entre os meses de janeiro e fevereiro de 2025, os alunos dos segundos anos dos cursos de Automação Industrial, Mecatrônica e Sistemas de Energia Renovável do IFMG Campus Ibirité participaram de um projeto interdisciplinar promovido pela área de Ciências Humanas, sob a coordenação dos professores Hudson Rosemberg Poceschi e Campos (Geografia), Luciano da Silva Moreira (História) e Fernando Ruiz Rosario (Filosofia e Sociologia). O objetivo foi aprofundar o entendimento sobre a formação do povo brasileiro, tendo como base a obra do antropólogo Darcy Ribeiro, que aborda a diversidade cultural e étnica do Brasil.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) é autor de uma das obras mais importantes para se compreender a formação étnica e cultural do povo brasileiro, o ensaio histórico-antropológico “O povo brasileiro - a formação e o sentido do Brasil”, obra que foi base para uma série documental produzida pela TVE e disponível nas plataformas de vídeo da internet.
Cada turma teve a oportunidade de vivenciar experiências únicas, visitando locais que refletem as influências e contribuições dos diferentes grupos que compõem a identidade nacional. O projeto buscou integrar teoria e prática, promovendo reflexões sobre a história e a cultura brasileira.
A preparação para as visitas técnicas e vivências
As turmas tiveram acesso aos quatro primeiros episódios da série documental “Formação do povo brasileiro”, produzida pela TVE, que apresenta a ideia de Darcy Ribeiro sobre como surge o “ser brasileiro”, em sua plenitude cultural, étnica e religiosa.
Os quatro primeiro episódios apresentados abordam os temas “Matriz Tupi”, “Matriz Afro”, “Matriz Lusa” e “Encontro e desencontros”( que aborda e abre espaço para a discussão sobre a miscigenação que compõe o brasileiro).
Além desses documentários, foram apresentados vídeos que apresentassem uma abordagem contemporânea sobre a condição dos povos originários, afrodescendentes e a relação de Portugal com o Brasil, enriquecendo a base teórica para as vivências.
Visitas e Experiências dos Alunos
A turma de Sistemas de Energia Renovável visitou a cidade histórica de Sabará, em Minas Gerais, conhecida por sua rica herança colonial portuguesa. Os alunos exploraram igrejas, casarões e museus que retratam a arquitetura, os costumes e a religiosidade trazidos pelos colonizadores. Durante o passeio, percorreram as ruas da cidade, visitaram as famosas fontes históricas que ainda existem no local, como a Fonte do Rosário, e conheceram outros pontos emblemáticos, como a Igreja de Nossa Senhora do Ó e o Solar Padre Correia.
Natália e Victória, alunas da turma, compartilharam suas impressões sobre Igreja de Nossa Senhora do Ó :
Natália e Victória - O alcance da colonização portuguesa fica muito evidente ao observar as influências na infraestrutura dentro da igreja de Nossa Senhora do Ó. No interior, podemos vislumbrar um maximalismo de detalhes, incluindo pinturas, peças com faixas de ouro, imagens e quadros. Abaixo do chão da igreja também servia como túmulo, e quanto mais próximo do altar, maior é a relevância desta pessoa! A influência também fica em evidência ao descobrir que um artesão com raízes chinesas, veio à América Portuguesa e participou do processo de construção da capela.
A experiência permitiu compreender como as tradições portuguesas se entrelaçaram com outras culturas para formar a base da sociedade brasileira.
Os alunos de Automação Industrial tiveram a oportunidade de visitar a comunidade indígena Aldeia Arapowã Kakyá Xucuru Kariri, onde foram recebidos pelo Cacique Carlinhos, que compartilhou histórias, tradições e os desafios enfrentados pelos povos originários. Miguel Silva de Souza Matos, um dos alunos, relatou sua experiência:
Na visita à aldeia Arapowã Kakyá Xucuru Kariri em Brumadinho, conseguimos descobrir mais sobre a cultura de um dos povos originários do Brasil, que fazem parte, com muitos outros, da Matriz Tupi descrita por Darcy Ribeiro em sua obra. Esses povos sofreram muita repressão desde a chegada dos colonizadores, mas mesmo assim se mantêm fortes e unidos, conseguindo proporcionar momentos de expressão cultural para alunos como nós, que aprendemos muito com eles.
Além disso, a turma visitou o Memorial Brumadinho, um espaço dedicado à memória das vítimas do rompimento da barragem em 2019. João Pedro Montes, aluno da turma, descreveu a experiência:
Ao visitar o Memorial Brumadinho, a estrutura no interior é bastante pesada e ainda mais pensativa quando se descobre o seu sentido. As paredes de barro, a pouca iluminação, a forma de como estão as paredes do memorial, retrata o sentimento daqueles que foram engolidos pela lama, a angústia das pessoas que sofreram com essa tragédia.
A visita proporcionou uma reflexão sobre a relação entre desenvolvimento, meio ambiente e direitos humanos.
A turma de Mecatrônica visitou a comunidade quilombola do Sapé, localizada em Minas Gerais, onde foram recebidos por Matuzinha e seu esposo Cirineu, lideranças locais que compartilharam a história de resistência e a cultura afro-brasileira da comunidade. Juan Luccas, aluno da turma, relatou:
Na comunidade quilombola da qual Matuzinha e Sirineu fazem parte, contaram a história do passado da comunidade e dos antepassados, relatando o sofrimento do passado e a situação atual. Na comunidade quilombola Sapé, uma cidade antiga na qual as casas eram cobertas de sapé, mas hoje em dia o sapé começou a ficar escasso e as casas começaram a desmanchar pela falta de recursos.
A visita ao Memorial Brumadinho também fez parte do roteiro, permitindo uma reflexão sobre os impactos socioambientais e a importância da preservação da memória coletiva. Anne Silva, aluna da turma, compartilhou:
É tão visível o impacto causado pelo rompimento das barragens, como tudo foi consumido pela lama, absorvendo tudo que estava no caminho de árvores e plantas até pontes ,carros e pessoas A lama pode ter destruído uma cidade, mas os bens materiais perdidos nunca vão se comparar ao vazio deixado por essas pessoas nas vidas dos amigos e da família.
O projeto buscou não apenas apresentar aos alunos a diversidade cultural do Brasil, mas também estimular reflexões críticas sobre a formação da identidade nacional. A partir das leituras de Darcy Ribeiro e das experiências práticas, os estudantes puderam compreender como as matrizes indígena, africana e europeia se fundiram para criar a complexa e rica cultura brasileira. Além disso, o projeto destacou a importância de preservar a memória e os direitos das comunidades tradicionais, bem como de refletir sobre os desafios contemporâneos relacionados ao desenvolvimento sustentável e à justiça social.
O que aconteceu no Brasil foi que os africanos foram tão fundo na construção deste país, que hoje eles já não são eles. Eles somos nós. (Darcy Ribeiro)
O projeto da área de Ciências Humanas do IFMG Ibirité, conduzido pelos professores Hudson, Luciano e Fernando, demonstrou como a educação pode ser um instrumento de transformação e conscientização. Também contou com a participação das professoras Luciana Maria Eliza do Vale e Amanda do Carmo Silva, que acompanharam as turmas nas visitas. Ao unir teoria e prática, os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar a história e a cultura do Brasil de forma profunda e significativa, contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e engajados com a realidade social.
Para além das visitas técnicas e documentários
Além das visitas técnicas, que propiciaram às turmas a vivência dentre das três matrizes que, segundo Darcy Ribeiro, formaram o nosso povo, os estudantes participantes tiveram a tarefa de produzir textos autorais (poemas ou crônicas) que retratassem a visão deles sobre a influência dessas matrizes sobre suas vidas e suas culturas. Posteriormente, após análise, os melhores textos serão expostos nos murais dos Campus e poderão compor um livro como produto final do projeto.