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Reflexões sobre formação docente e ensino superior marcam as discussões da Reditec 2020
O segundo dia da 44ª Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec 2020) foi marcado por discussões sobre o ensino superior e a formação docente. Sob o tema “Educação”, a mesa redonda contou com a participação da pesquisadora e docente da Universidade Federal de Pelotas, Maria Isabel da Cunha, e do coordenador da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico do Porto (IPP), Luís Maria Fernandes.
A atividade, que foi transmitida através dos canais oficiais do Youtube e Facebook do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal (Conif), foi mediada pela reitora do Instituto Federal Catarinense (IFC) e vice-presidente de Assuntos Acadêmicos do Conif, Sônia Regina de Souza Fernandes.
Impactos Contemporâneos na profissão de professor
Pesquisadora de temáticas sobre a educação superior, formação de professores, pedagogia universitária e docência universitária, Maria Isabel da Cunha ressaltou a necessidade de se pensar e repensar a profissão de professor. Para ela, o processo de formação docente conta com uma série de aspectos que incidem sobre a docência. Dentre eles, estão o campo de conhecimento e as estruturas de poder, os dispositivos de valorização e desempenho, gênero, a globalização, tecnologias, o mercantilismo, a internacionalização, além do bem e mal estar dos professores.
“A profissão de professor, caracterizada como um espaço de interação humana no contexto de estruturas de poder, é atingida por tensões ideológicas e morais que partilham tempos e espaços muito contraditórios. Portanto, ela se afasta de referentes universais de qualidade e depende das expectativas sociais e institucionais que sobre ela incidem. Dessa maneira, essa processo de formação é bastante complexo para ser pensado nesse momento atual, visto o que vínhamos construindo até então, como também sobre o que esperamos para o futuro”, ressaltou Maria Isabel da Cunha.
Educação e Diversidade
Em relação à educação, a pesquisadora ressaltou a diversidade como característica local, devido às realidades distintas e complexas vivenciadas nas cinco regiões do país. Além disso, segundo Maria Isabel da Cunha, exigências e expectativas têm sido postas aos docentes nesse momento de pandemia. Dentre elas, a possibilidade do ensino remoto, o protagonismo pedagógico, produtivismo, inovação como estratégia, saberes e TICs, por exemplo.
“Essas são algumas exigências que estão sendo postas de uma maneira fracionada e, que em determinados contextos, para alguns representa maior facilidade e para outros menos. Concordo que, a partir dessa experiência, possa acontecer uma possibilidade de repensarmos, não para mantermos o ensino remoto ou sermos saudosistas e voltarmos ao que éramos antes. Mas que possamos dar um passo adiante e avançarmos em uma perspectiva diferenciada sobre o que já vínhamos anunciando e analisando em nossos processos de ensinar e aprender, na formação do docente e da docência, em uma aprendizagem que tenha sentido e significado muito próximos daquilo que (Paulo) Freire nos ensinou: o ensino aprendente”, destacou Maria Isabel da Cunha.
Pandemia e mudanças nos processos educacionais
Ainda em relação ao contexto de pandemia, o docente e coordenador da Escola Superior de Educação do IPP, Luís Maria Fernandes, ressaltou que as mudanças registradas no ensino superior não foram ocasionadas pela Covid-19 e que a crise sanitária não pode ser analisada somente pelo viés da oportunidade.
“Não acho que a crise seja uma oportunidade. Ela tem sido um enorme problema para as instituições de ensino superior. Pois, se pensarmos naquilo que constituiu a nossa experiência enquanto estudantes de ensino superior e qual foi o conjunto de fatores que a tornaram uma experiência rica, percebemos que as dimensões presenciais da vida acadêmica se perdem e constituem um prejuízo importante para quem está em percurso formativo. Por isso, não acho que essa situação seja uma oportunidade. A crise é um enorme problema de saúde, é um enorme problema econômico, social e educativo. O que acho que é precisamos, acredito eu, ser otimista e pensar nas vantagens dessa situação”, avaliou Luís Maria Fernandes.
Em relação às mudanças no processo de ensino-aprendizagem junto às instituições de ensino superior, o docente acredita que estas já vinham acontecendo e que o contexto da pandemia contribuiu para que essas fossem acentuadas. Além disso, ele ressalta que o novo coronavírus também trouxe à tona a valorização social da educação e da ciência, como também ampliou a procura pelo ensino superior em Portugal, por exemplo.
“Acredito que a utilização de instrumentos tecnológicos pode contribuir para trazer à educação superior mais qualidade. E nunca esquecendo que uma educação com mais qualidade é uma educação mais inclusiva. Precisamos ultrapassar a ideia de que o aumento do número de estudantes no ensino superior correspondia ao risco de uma redução de qualidade no ensino superior. Eu creio que o critério essencial para medir a qualidade do ensino superior está no aumento da quantidade de estudantes que nós envolvemos no ensino superior. Esse aumento nos obriga a repensarmos o modo como ensinamos e trabalhamos o ensino, pois quando aumentamos o acesso ao temos mais possibilidades de construir as elites acadêmicas e sociais”, afirmou o coordenador do IPP.
Perspectivas futuras para Educação
Outro aspecto importante neste contexto de pandemia são as contribuições que Instituições de Ensino, a exemplo, dos institutos federais brasileiros e institutos politécnicos, centros de pesquisa, universidades ao redor do mundo proporcionam em soluções para as crises vivenciadas sejam sanitária, econômica, social numa perspectiva de trabalho em rede. “Esta crise apela para a construção de redes e a impressão de que sem essas redes não sobreviveremos”, destacou.
Em relação ao ensino a distância, Luís Maria Fernandes acredita que esse seja uma oportunidade de tornar as instituições de ensino superior em espaços de oportunidade de aprendizagens. “Precisamos valorizar as possibilidades da educação entre o presencial e a distância, para construir soluções formativas que sejam mais flexíveis, mais incrementais. O ensino a distância é muito mais do que uma possibilidade de ensinar quem está distante. É uma possibilidade de ensinar quem está próximo, mas não tem disponibilidade para os horários típicos do ensino superior. Espero que essa nova circunstância nos permita alterar o trabalho que temos feito e transformar os caminhos que já vinham sendo traçados”, finalizou.
Reditec 2020
Com o tema “Contribuições, perspectivas e transformações da Rede Federal para os contextos de pandemia e pós-pandemia”, a Reditec 2020 segue até o dia 08 de outubro. O evento, que esse ano está sendo realizado em formato totalmente online, é organizado pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal (Conif).
Nesta quarta-feira (07.10) acontece a mesa redonda sobre Gestão e Trabalho, a partir das 15h. A transmissão será feita a partir dos canais oficiais do Conif no Facebook e YouTube.
Fonte: Assessoria de Comunicação do Ifac e do IFPI