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Utopia necessária: Diálogos com Thiago de Mello
Já pensou viver em um mundo onde “nada será obrigado nem proibido”? Esse foi um dos questionamentos abordados no 43º encontro do Projeto Diálogos, ocorrido na última quarta-feira (05/07), no qual foi discutido o texto Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente), do poeta amazonense Thiago de Mello, que o publicara em 1964, ano de início do período da Ditadura Militar no Brasil.
Inicialmente, a professora Kênia Brant, integrante da equipe gestora do projeto e responsável pela escolha do texto, fez um breve relato sobre a vida do poeta, seguido de um vídeo curto (Como sou), por meio do qual o próprio autor se apresentava.
Na sequência, abusando da poética do espaço, 13 estudantes voluntários ocuparam o palco principal para a realização de uma leitura performática do texto, que pretendia simular um julgamento em tribunal. A cada estrofe-artigo lida, sobrevinha a intervenção sonoramente impactante da batida do martelo sobre a mesa, até que todos, ao final, numa espécie de “rebeldia”, deram tapas contínuos sobre a superfície.
Abriu-se, então, o espaço para que os presentes no encontro pudessem manifestar suas opiniões, direcionamentos e conclusões em relação ao poema. Ficou evidente, por exemplo, o anseio constante do eu-lírico por uma retomada dos sentimentos pueris em relação à vivência, principalmente nos trechos em que o autor cita o constante ato de dúvida e de rara confiança plena entre os homens; a exaltação da alegria construtiva e da confidência da verdade como um ato de coragem; e também a defesa irrevogável de expressar o amor de forma absoluta. Tudo isso é bem representado no parágrafo único do artigo XII: “Só uma coisa fica proibida: amar sem amor .”
Entre os vários temas discutidos, destacaram-se: utopia e liberdade, ironia e poesia, conhecimento e amor próprio.
É interessante pontuar que o poema discutido possui uma estrutura particular, semelhante ao texto de uma lei. Ele enumera diversas “regras” necessárias para a boa convivência entre as pessoas, de modo que se relaciona em conteúdo e forma com o contexto em que foi elaborado. Observe, por exemplo, o artigo XII: “Decreta-se que nada será obrigado / nem proibido, / tudo será permitido, / inclusive brincar com os rinocerontes / e caminhar pelas tardes / com uma imensa begônia na lapela” – justamente quando o poeta dá a entender que estabelecerá leis universais que quebram paradigmas do dia a dia, depara-se com uma feliz ironia, a qual enfatiza o desejo do autor não de estabelecer controle, mas de que sejamos incansavelmente felizes.
O encontro foi finalizado com uma adaptação musical do poema composta pela aluna Rayssa Marques Mendes, do 1º ano do curso Técnico Integrado em Segurança do Trabalho (TST). A aluna aceitou o desafio proposto pela equipe gestora de ambientar o texto e assim o fez. Em uma melodia viva e cativante, conseguiu desenvolver a emoção por meio da voz e do violão.
Desde o primeiro encontro desta atual edição do projeto, todos os participantes têm sido encorajados a utilizarem um “laço da consciência”, que, a cada mês, representa um tema de relevância para a sociedade como um todo. O Julho Amarelo implica atenção voltada à prevenção das hepatites virais e do câncer ósseo.
O encontro, em sua totalidade, foi um verdadeiro sucesso! Confira um depoimento:
“Toda experiência em que há o contraste de ideias é construtiva, ainda mais quando o foco é um texto extremamente complexo, que pode ser visto de vários pontos de vista diferentes, o que traz muita riqueza para o debate. Gostei bastante de todas as opiniões e de como foi construída a reunião. Pretendo sim voltar mais vezes”, relata Álvaro Monteiro Lopes, aluno do Colégio Tiradentes da PMMG, convidado externo que participou do Diálogos pela primeira vez.
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O texto acima foi escrito pelos estudantes Augusto Vitor de Araújo Marino; Carlos Valentim Cândido Mouro; Gabriela Martins Rodrigues Neves e Lavínia Coelho Silva, alunos do 1º ano do curso Técnico Integrado em Meio Ambiente (TMA), e por Yuri Trambaioli Nogueira, colaborador externo do projeto. Todos são voluntários do Projeto Diálogos em 2023. Os alunos foram tutorados pela professora Kênia Brant e pelo professor Wanderson Batista. / Edição jornalística: Fernanda Melo