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Prefeitura de Ouro Preto assina lei que leva nome de professora do IFMG
Em uma cerimônia marcada por emoção e saudade, a Prefeitura de Ouro Preto realizou na última segunda-feira, dia 6 de março, no auditório Arthur Versiani Machado, a assinatura da lei Clarissa Fernandes, reconhecendo oficialmente a Língua Brasileira de Sinais (Libras) em Ouro Preto.
A iniciativa recebe o nome da professora de Libras do Campus Ouro Preto e ativista da causa surda, que faleceu em setembro de 2022, vítima de um acidente de trânsito. O documento visa garantir a implementação de políticas públicas voltadas ao direito da comunidade surda do município.
Projeto construído a muitas mãos
Com autoria do vereador da Câmara de Ouro Preto Matheus Pacheco, o projeto de lei nº 470/22 foi construído em parceria com o Movimento Bilíngue de Minas Gerais e com a participação da própria docente.
No mesmo sentido, tramita na Câmara de Belo Horizonte, desde o ano passado, projeto de lei que oficializa Libras e outros recursos de expressão a ela associados como língua de instrução e meio de comunicação da comunidade surda no município. A iniciativa, de autoria da deputada federal Duda Salabert, à época, vereadora na capital mineira, também contou com a participação de um grupo da comunidade surda de Belo Horizonte, do qual a professora Clarissa fazia parte.
Para o vereador e autor da lei em Ouro Preto, Clarissa era uma mulher de fibra, coragem e entusiasmo. “Tive a oportunidade de ser seu aluno [no IFMG]. Acompanhando todo esse processo de construção da lei em BH, não poderíamos deixar de fazê-lo aqui, na nossa cidade. É um projeto que tenho certeza de que será replicado em muitas câmaras em nosso estado. Precisamos fazer com que essa pauta possa fazer parte do nosso cotidiano”, ressalta.
Durante a solenidade, a deputada Duda Salabert contou que Clarissa a transformou profundamente, apesar dos poucos encontros presenciais que teve com a docente. “A política é um espaço muito duro, muito frio. Vamos ficando insensíveis para as coisas diante de tanta crítica, tantos problemas. No dia trágico [do acidente], eu chorei muito, e fazia anos que não chorava. De lá pra cá, todas as vezes em que chorei, foi por causa de Clarissa”, conta a deputada, que destacou, ainda, o equilíbrio entre força e doçura sempre tão presentes na professora: “Das ativistas que conheci, talvez tenha sido uma entre as de maior força. Ela tinha uma luta construída que se endureceu, mas sem perder a poesia, o humor, que era a marca dela. Ela continua me ensinado, pois eu me inspiro nela”.
Reconhecimento e homenagens
Uma sequência de homenagens à professora integraram o evento, com a exibição de vídeos retratando a trajetória de vida e de luta de Clarissa Fernandes. O primeiro, produzido pela intérprete de Libras do campus, Luana Dias, conta com um depoimento da própria Clarissa, colhido no ano passado. Na sequência, foi exibido o vídeo “Poesia Clarissa para sempre”, com autoria de Hélio Alves e Vanessa Prata.
O diretor-geral do IFMG - Campus Ouro Preto, Reginato Fernandes, ressaltou a importância da nova lei para o fortalecimento de políticas públicas do município, em especial, para a comunidade surda: “Sabemos que inúmeros obstáculos ainda existem quando falamos de acessibilidade, por isso, ter um amparo legal contribui muito para a construção de políticas sólidas e institucionalizadas. Ouro Preto é uma cidade de lutas, e o reconhecimento da professora Clarissa é muito merecido, pois foi uma lutadora. Sua breve passagem por essas terras não foi em vão”.
Orgulho
A cerimônia contou com a presença de familiares da professora. Para Marco Túlio, filho de Clarissa, a sanção das leis em Ouro Preto e em Belo Horizonte é motivo de orgulho. “Tudo isso mostra pelo o que minha mãe lutou esses anos todos”, afirma.
Décio Jarbas, pai da docente, celebra a luta de Clarissa: “A gente não conhecia a comunidade surda. Do surdo, a um tempo atrás, ninguém queria saber. Fico muito feliz por ela ter participado desse processo. Nossa gratidão por ela ter se empenhado nessa luta. Agradecimento especial à Duda e ao Matheus, autores das leis que levam o nome da minha filha”.
Clarissa Fernandes
Clarissa Fernandes das Dores perdeu a audição ainda na infância, aos dois anos de idade. Aprendeu a ler e a escrever aos cinco, e teve o hábito da leitura incentivado pela mãe, então professora de português. Também aos cinco anos, usou pela primeira vez um aparelho auditivo, mas, aos 15, ao não mais conseguir ouvir por meio do equipamento, aprendeu Libras.
Mestre em Educação pela UFOP e graduada em Letras-Libras pela UFSC, ingressou no IFMG - Campus Ouro Preto em 2011 como a primeira docente de Libras da Instituição. Foi também membro do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas do campus, ativista e representante do Movimento da Educação Bilíngue de Surdos.
“ Impossível não gostar do IFMG - Campus Ouro Preto que é, para mim, a minha segunda casa, pois vivo longe da família e sempre estou aqui onde tem o melhor ensino; onde diversidade, cultura e inclusão de fato se fazem presentes, onde há zelo e dedicação pela educação, onde estão os melhores profissionais que têm paixão e respeito pela profissão, pelo trabalho e pelo campus, que compartilham conhecimentos com os alunos para que possam ser profissionais que valorizem e respeitem o outro e os saberes construídos neste espaço educacional.”
Maio/2020
Clarissa Fernandes das Dores
Professora (Libras)